Por J. B.
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Edição que eu li. |
Em agosto de 2014 anunciamos que a o canal pago
americano Syfy esta preparando uma minissérie chamada Childhood’s End, publicado no Brasil como O Fim da Infância, um clássico da literatura
de ficção científica escrito pelo renomado Arthur C. Clarke, e publicado originalmente em 1953. Um fato curioso que descobri é que a primeira parte é, nada mais nada menos, que uma versão estendida do conto que deu origem ao livro, Anjo da Guarda, publicado em abril de 1950.
A minissérie conta com a produção de Matthew Graham
e contará com seis episódios, dirigidos por Nick Hurran, da série
Doctor Who, no entanto até o momento não foi divulgado nem cronograma de
gravação, nem data de estreia e nem elenco.
Mais esse texto não é sobre essa futura minissérie e sim sobre o livro. Considerada uma das maiores obras literárias da ficção científica, apesar de ser quase desconhecido pelo publico em geral. Em plena guerra fria com a corrida espacial em seu
auge, um evento muda completamente o panorama geopolítico da Terra, quando gigantescas espaçonaves pairam sobre as principais cidades do nosso planeta.
Os visitantes, porém rapidamente tomam o controle de nossa civilização sem maiores problemas, no entanto não estouram uma guerra
contra a humanidade como em A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, e
outros livros do gênero; os Senhores Supremos, como se autodenominam,
se dispõem a ajudar a humanidade, mostrando o caminho para a evolução e a solução de seus problemas. Contanto, há uma imposição: nenhum humano poderá vê-lo.
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Arthur C. Clarke. |
Nesse processo de evolução, alguns preços teriam que ser pagos, entre eles a proibição do inicio da conquista do espaço, o fim do livre arbítrio. Áreas como arte, por exemplo, eram sacrificadas para o bem maior da evolução da sociedade. Guerra, fome, miséria e
todo flagelo causado pelas imperfeições no desenvolvimento de nossa
civilização desapareceriam completamente, incluindo o maior deles, a
religião.
Também é criado o Estado
Mundial, são abolidas as forças armadas e com isso causando um aumento considerável da riqueza do
mundo. Com a sua tecnologia superior os
Senhores Supremos garantem o controle e
evolução plena de nossa civilização, as máquinas encarregam-se sozinhas da produção de praticamente
todos os bens e serviços, fazendo com que a humanidade passe a se dedicar exclusivamente a
atividades de seu genuíno interesse.
Mesmo com todos esses benefícios a humanidade continuava inquieta, afinal é da natureza do homem ser curioso, e se perguntando o motivo pelo qual os alienígenas não se mostram. O que teriam a esconder? A aparência deles seria tão grotesca para os olhos humanos? Como forma de acalmar a humanidade os Senhores Supremos dão a seguinte resposta:
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Senhor Supremo. |
"Daqui a duas gerações, ou seja cinquenta anos, iremos sair de nossas
naves e vocês, finalmente, poderão nos ver."
Nesse tempo, os alienígenas
ficariam em suas naves sem revelar sua verdadeira forma. Os Senhores passaram a
ter contato, unicamente, com Rikki Stormgren, Secretário-geral das Nações
Unidas, único ser humano que podia entrar em contato, apenas verbal, não
visual, com eles.
Passado o tempo estipulado,
os humanos estão, finalmente, prontos para conhecer os Senhores
Supremos, era chegada a hora da revelação e de uma grande surpresa, tanto
para os personagens, quanto para os leitores. Segundo a descrição de Arthur C. Clarke, os Senhores Supremos tem duas vezes a
altura de um humano normal, possuem asas, chifres e uma calda com uma ponta em formato
de lança. Em outras palavras, eles
têm formas "demoníacas".
É revelado que eles já teriam
entrado em contato com a humanidade nos primórdios da história, fazendo surgir
o mito de Lúcifer e seus demônios. Mas naquele momento os humanos já haviam
deixado a superstição para trás e
as religiões simplesmente não existiam mais.
Com o decorrer dessa evolução
e com a revelação da forma real dos Senhores Supremos, a raça humana então
percebe que esses seres, apesar de seu nome, são subordinados a outro ser, o
que acaba recebendo o nome “Mente Suprema”. Essa
“Mente” teria encarregado os Senhores Supremos da missão de preparar nossa raça
para o próximo passo evolucionário, ou como descobrimos depois preparar a
humanidade para o seu momento derradeiro, do qual surgiria uma nova forma de
vida que se assimilaria, posteriormente, a essa Mente.
Os próprios Senhores Supremos
se ressentem por também não fazerem parte desse processo e permanecerem fadados
a essa realidade do físico, do material. Apesar da relação direta feita do
título da obra com essa fase no processo evolutivo determinada pela “Mente
Suprema” em relação as crianças, não é preciso ir muito longe para compreender
também uma relação direta com a própria condição de nossa civilização, pois a
humanidade vivia em completa ignorância, infantilidade, com relação ao universo
ao seu redor. Os ignorávamos, mas não éramos ignorados.
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Chegada dos Visitantes. |
E quando o momento de deixar de ser criança
chegar, o momento onde evoluiremos para uma espécie mais avançada, aberta para
novos horizontes e descobertas, estaremos preparados? Pois a qualquer momento,
a infância em que a humanidade vive chegará ao fim, já que nossa existência é
só um fragmento solto em um processo muito mais complexo e elaborado do que
nossas mentes poderiam conceber.
Os
Senhores Supremos conseguem ver as engrenagens que operam todo o sistema,
apenas isso. Mas teriam eles direito de ditar dessa forma, devido essa escala
evolutiva, qual o melhor caminho para as raças ainda não prontas como a nossa?
Sua resistência nula em relação às determinações dessa “Mente Suprema” trazem
um aspecto assustador para o processo.
Bom, no decorrer da leitura, descobrimos que todas as crianças do mundo com dez anos ou menos
entram num transe eterno e são separadas
dos adultos, os alienígenas ocupantes as reúnem num continente
apenas delas, enquanto que o resto da humanidade fica em outro canto, sem poder
se reproduzir e fadada à extinção. Por fim essas crianças
deixam a terra, se juntando a
“Mente Suprema”, durante esse processo a Terra encontraria seu fim durante esse processo. O que fica claro é que essa evolução iria ocorrer, com nossa raça querendo ou
não. A infância em que a raça humana vivia, havia chegado ao fim.
Enquanto tudo isso acontece descobrimos que os Senhores Supremos lamentavam-se por
não possuírem a capacidade de seguir adiante nessa “evolução”, e estarem presos
ao mundo físico. Eles também aceitam passivamente as determinações dessa Mente
poderosa sem mostrar qualquer sinal de revolta.
O título do livro deve-se, ao
que tudo indica, a essa transição que ocorre de Homo sapiens para seja lá o que
for aquilo no qual as crianças se transformam.
Um trecho do livro, em que os Supremos se dirigem aos habitantes da
Terra:
"Todas as mudanças anteriores que sua raça
conheceu levaram um tempo incalculável. Mas essa é uma transformação da mente,
e não do corpo. Pelos padrões da evolução, será cataclísmica — instantânea. E
já começou. Vocês têm que enfrentar o fato de que são a última geração do Homo Sapiens.”
Li O Fim da Infância no começo do século XXI através do meu grande amigo Marcelo Lima, e lembro que em pontos-chaves eu parava a leitura com o "queixo no chão". Sem dúvida, é um livro que eu recomendo
veemente, pois por trás de sua história fictícia, há uma mensagem contra a
ignorância intelectual e espiritual com a qual convivemos.
Fonte: Texto inspirado no original
O Fim da Infância: utopia e existencialismo, escrito por Marcelo S. Lima, jornalista, colunista e podcaster do site
www.uarevaa.com