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sexta-feira, 14 de julho de 2017

REVIEW BOOK: CONAN - O BÁRBARO

Por J.B. 

Autor & Obra.
Já faz alguns anos, mais precisamente em 2012, que comprei, li, e reli inúmeras vezes, o livro Conan: O Bárbaro, publicado pela editora Évora, sob o selo Generale. Mais só agora tive tempo e disposição de escrever um review sobre ele, e para tal empreitada, tive o prazer de fazer uma nova leitura. Após décadas de sua publicação original o romance "A Hora do Dragão" (The Hour of the Dragon), com cerca de 192 páginas, chega ao Brasil.

Robert E. Howard, nascido em 22 de janeiro de 1906, em Peaster, no Texas, e falecido em 1936, em Cross Plains, também no Texas, com apenas 30 anos é considerado, hoje, um dos escritores mais celebre de sua geração, tendo criado dezenas de personagens conhecidos, como o Rei Kull, o puritano Solomon Kane e o guerreiro picto Bran Mak Morn. Sendo considerado o pai indiscutível do gênero "Espada & Magia" (Sword and Sorcery).  

Ao longo de sua curta, porém prolífica carreira, Howard escreveu histórias de aventura, terror, faroeste, ficção científica e erotismo, além das detetivescas, entre outras. Depois de sua morte em 1936, Conan passou pelas mãos de outros tantos escritores, como por exemplo, Poul Anderson, Leonard Carpenter, Lin Carter, L. Sprague de Camp, Roland J. Green, John C. Hocking, Robert Jordan, Sean A. Moore, Björn Nyberg, Andrew J. Offutt, Steve Perry, John Maddox Roberts, Harry Turtledove e Karl Edward Wagner.

O bruxo Xaltotun, por Gil Kane.
Ele é um escritor obrigatório para qualquer amante de aventura e fantasia, que esteja à procura de aprofundar seu conhecimento sobre um gênero específico. Entrar de cabeça na aventura e se deixar levar, sem questionar esses traços, é a melhor coisa, além de prestar atenção nos detalhes daquele mundo, onde conseguimos captar e uma ou outra pincelada do estilo do escritor Howard Phillips Lovecraft, que era amigo, por correspondência com o Howard.  

Mas foi com a criação de Conan: O Bárbaro, que seu nome se imortalizou. Esse romance é, cronologicamente, a última aventura do bárbaro escrita pelo seu criador, ele foi publicado pela primeira vez entre 1935 e 1936, em cinco edições da revista norte-americana Weird Tales, sendo que a última edição saiu apenas dois meses antes da morte prematura de Howard.

Lançadas originalmente em revistas pulps norte-americanas, as histórias de Howard foram republicadas incontáveis vezes em mais de uma centena de países em todo o mundo, e hoje são consideradas um marco para a literatura fantástica, servindo de inspiração para os mais diversos escritores, tais como George R. R. Martin, autor de "As Crônicas de Gelo e Fogo". 

O livro trás, ainda, mais três contos inéditos: "Além do Rio Negro" (Beyond the Black River), "As Negras Noites de Zamboula" (Shadows in Zamboula) e "Os Profetas do Círculo Negro" (The People of the Black Circle).  

Conan capturado, por Gil Kane.
Esse romance já teve uma adaptação para as HQs, lançado pela Marvel Comics, no final da década de 1970, com o roteiro do mestre Roy Thomas e desenhos de Gil Kane e do lendário John Buscema. Eu já havia lido essa adaptação, mais posso garanti a todos vocês, não tem a menor comparação entre a HQ e o romance, que nos mostra um texto, esplendidamente, bem escrito e detalhado de Robert.

"A  bandeira do Leão balança e cai nas trevas assombradas  pelo horror. Um dragão escarlate, nascido dos ventos da ruína, sussurra. Os brilhantes cavaleiros estão amontoados onde as lanças pontiagudas irrompem, e nas montanhas arrepiantes os  deuses perdidos da escuridão despertam. Mãos mortas apalpam nas sombras e estrelas empalidecem de pavor, pois esta é a Hora do Dragão - o triunfo do medo e da noite."  

Apesar de "A Hora do Dragão" ser o carro-chefe desse livro, não significa que os demais contos são ruins, muito pelo contrario, são excelentes, o caso é que esse romance é considerado o único escrito pelo Howard, além de ser considerado um dos melhores exemplos do gênero. 

A história começa nas sombras do reino da Nemédia, onde um insidioso complô, organizado por Amalric, barão de Tor, Tarascus o novo rei da Nemédia, que subiu ao poder graças às artes negras e Valerius, o herdeiro "legítimo", último membro vivo da dinastia anterior do reino da Aquilônia, o mais poderoso reino da Era Hiboriana, eles pretendem destruir o rei Conan e dividir o reino entre si. Para isso esses conspiradores ressuscitam um antigo e poderoso feiticeiro do maligno e ancestral reino da Acheron, chamado Xaltotun.

Ao amanhecer vemos Conan se preparando para enfrentar Tarascus, no entanto momentos antes da guerra começar o cimério é acometido por uma misteriosa paralisia. Com isso o comandante Pallantides, temeroso com a reação da tropa, envia um sósia em seu lugar que infelizmente sucumbe em um desabamento de rochas. Quando Conan recupera suas forças já é tarde demais. 

O Leão vs O Dragão.
No final desse dia maldito o exército se dissipou acreditando que o Rei estava morto, logo depois o maligno Xaltotun captura o Conan, mas decide não mata-lo e o mantém, secretamente, prisioneiro no calabouço do palácio do rei Tarascus, localizado em Belverus, capital da Nemédia. Conan escapa, tornando-se um foragido, tendo que usar todos os seus conhecimentos e habilidades para salvar o seu reino. 

Conan só consegue escapar das masmorras do castelo de Tarascus com a ajuda de uma concubina do rei da Nemédia, chamada Zenóbia, uma linda mulher de pele alva como alabastro e longos cabelos negros, que consegue roubar as chaves das correntes e portas, além de entregar uma longa e afiada adaga para o bárbaro. Por essa atitude Conan promete vim salva-la e torna-la sua rainha. Porém a fuga de Conan não é fácil, já que nos tortuosos corredores da masmorra vive um primata carnívoro, de proporções descomunais, que é liberto, pelo próprio Tarascus, a fim de dar um término à vida do bárbaro.  

"- Encontre o coração do seu reino – ela disse afinal. – Nele está sua derrota e seu poder. Você enfrenta mais do que homens mortais. Não se sentará no trono novamente a menos que encontre o coração do seu reino." Pág. 66.

Após matar a besta, Conan reencontra Zenóbia, que o ajuda a sair do castelo, além de lhe indicar o local onde ela amarrou um cavalo. Após sair da Nemédia, Conan salva a feiticeira Zelata de um grupo de soldados nemedios, em retribuição ela lhe dá abrigo, descanso, alimento e lhe informa como estão às coisas em Tarantia, a capital da Aquilônia. 

A Batalha Final.
Conan viu, através de brumas mágicas, o seu reino se render às forças da Nemédia e ser completamente assolado pelos homens da Nemédia, seu ódio foi tal que decidiu ir para Tarantia. Lá  o rei, juntamente que sua amiga a condessa Albione, recebem abrigo e conselhos de Hadrathus, sacerdote do deus Asura. É Hadrathus que orienta Conan sobre o passado do Xaltotun. 

Conan descobre sobre um artefato místico, chamado de o Coração de Ahriman, a única coisa capaz de destruir Xaltotun e reconquistar o seu reino. Para ter posse de tal objeto, ele parte em uma jornada perigosa, repleta de aventuras e traições, com o perigo sempre à espreita. Disfarçado de mercenário Conan perseguiu o portador do Coração pelas vastas planícies entre Zíngara e Argos. 

Chegando à cidade portuária de Messantia, Conan é traído por um ex-colega dos tempos de corsário chamado Publio e acaba como escravo em uma galera argoseana, onde causa uma revolução na embarcação, quando reencontra antigos companheiros da época em que ele era conhecido como o corsário Amra, o amante de Belit, a Rainha da Costa Negra. Ainda que mais maduro e sábio, a selvageria em combate foi um traço que o cimério manteve.

Depois de ter passado por várias aventuras, entre elas enfrentar uma vampira milenar chamada Akivasha e escapar, com a ajuda da múmia de um sacerdote chamado Thothmekri, de um amaldiçoado templo stygio, e já de posse do Coração de Ahriman, Conan começa a preparar seu retorno para a Aquilônia, para o seu trono e principalmente para a derrota de seus inimigos.  

Enquanto isso em Tarantia, capital da Aquilônia, os conspiradores percebem o erro que cometeram ao ressuscitar Xaltotun, já que agora o mesmo quer usar suas artes infernais para trazer a ancestral Acheron, seu reino destruído há milênios, de volta a vida. Em um encontro com os vilões, onde era debatido os rumores sobre o retorno, da terra dos mortos, de Conan e o início de levantes em várias províncias do reino, Xaltotun apresenta um pergaminho que recebeu, com a seguinte mensagem: 

"Para Xaltotun, grande faquir da Nemédia: Cão de Acheron estou retornando ao meu reino, e pretendo pendurar sua pele em um espinheiro. CONAN." Pág. 171.

De várias partes do reino, homens se levantam para a guerra. Do Oeste vem os Bossonianos, do Norte vêm os ferozes homens de Gunderlândia, mas a força principal vem do Sul,  milhares de guerreiros do Poitan, liderados pelo próprio Conan. Finalmente a batalha final se aproxima. 

No local conhecido como Vale dos Leões ocorre o último embate entre as forças de Conan contra as forças de Amalric, em cima de um rochedo Xaltotun preparava um ritual, sacrificando uma virgem para os deuses infernais. Quando é impedido por Hadrathus, o sacerdote do deus Asura, juntamente com a feiticeira Zelata e seu lobo. O clímax desse romance vocês mesmos terão que descobrir.

Mapa dos Reinos Hiborianos.
Os outros três contos não deixam nada a desejar em relação à história principal e, com seu toque macabro, mostram em cada uma delas o bárbaro numa época anterior ao trono, quando o cimério era apenas um guerreiro errante pelos reinos hiborianos, conquistando aos poucos seu espaço no mundo. Em todas elas, ele se depara com forças malignas, monstros diabólicos, além do entendimento humano e as encara com a costumeira coragem de alguém que não experimenta derrotas e tem completa autoconfiança e domínio de suas qualidades.  

No primeiro deles, "Além do Rio Negro", vemos a história da perspectiva de Balthus. O rapaz é salvo por Conan, que está servindo como soldado em um forte, que é a única linha de defesa entre uma área de colonos e os selvagens Pictos, o cimério vasculha a floresta em busca dos selvagens. A tribo é uma ameaça as pessoas e a um forte próximo, portanto o cimério e seu novo amigo precisam protege-lo, principalmente da ameaça do feiticeiro picto chamado Zogar Sag. Básico e funcional, com uma história apoiada na ameaça dos selvagens atacarem, o conto se segura muito bem.  

Já no conto "As Negras Noites de Zamboula", vemos o cimério no centro de perigoso mistério, quando vários viajantes somem quando pernoitam na estalagem do sorrateiro Aram Baksh, em Zamboula, famoso entreposto comercial do deserto de Kharamun. Ao sofrer um atentado, Conan decide descobrir o que está acontecendo, é aí que ele encontra a dançarina Zabibi sendo levada por um grupo de canibais, ao salva-la, Conan se compromete a salvar o amado de Zabibi, o oficial Alafdhal, além de preparar uma pequena "surpresa" para o Aram Baksh, que fará o leitor mais sádico sorrir e o final nos brinda com aquele lado mais malandro do nosso protagonista. E por fim, temos o conto "Os Profetas do Círculo Negro", onde o bárbaro precisa salvar sete guerreiros Afghulis, que foram capturados por um governador do reino de Vendhia. Como uma forma de barganha a liberdade de seus amigos, Conan rapta a princesa Divina Yasmina, porém isso o coloca no caminho de perigosos inimigos, os Profetas Negros de Yimsha. Esse é aquele tipo de conto que possui possui muitas reviravoltas em sua trama, porém mantendo um bom ritmo até seu encerramento. Esses três contos tiveram suas adaptações para os quadrinhos publicados, pela Editora Abril, na saudosa Espada Selvagem de Conan, respectivamente nos números #14 e #15, #08, #12 e #13,  na primeira metade da década de 1980. 

Earl Norem, John Buscema, Ernie Chan & Frank Frazetta.
Com uma narrativa ricamente contextualizada, um enredo para não colocar defeito e um talento extraordinário para contar histórias, Robert E. Howard, apesar de sua curta vida, conseguiu imortalizar o seu nome ao criar um dos protagonistas mais fascinantes da literatura mundial. Um personagem que nunca será esquecido e ainda irá encantar milhares de outros leitores que tiverem a sorte de se deleitar com as suas aventuras. Esse livro é, sem sombra de duvida, um dos melhores épicos que você poderá ter em mãos. As histórias de Conan são uma critica sutil a raiz da nossa sociedade e do nosso sistema político. 

Esse livro veio em uma edição muito boa,  com um papel resistente, daquele tipo amarelado, que facilita a leitura com luz artificial.  No começo temos uma apresentação do roteirista Roy Thomas, ex-editor da Marvel Comics e responsável pelas melhores adaptações dos livros e histórias inéditas do Conan, grande parte publicada na Espada Selvagem de Conan. Também temos um excelente texto do Alexandre Callari, responsável pela tradução dessa obra, inclusive Callari faz uma apresentação que, com certeza, irá umedecer os olhos de alguns fãs do cimério.

Apesar de tudo de bom que já falei de Conan: O Bárbaro, tenho que confessar que tem algo que me incomoda desde o dia em que fiz o pedido do livro. Primeiro a capa, que quis "pegar carona" no lançamento do filme estrelado pelo Jason Momoa, utilizando o pôster oficial do longa como capa. E em segundo lugar ter colocado, dentro do livro algumas fotos desse mesmo filme.

Sei que foi uma jogada de marketing,  mas tenho plena convicção de que inúmeros fãs, assim como eu iriam preferir muito mais, que no lugar dessa capa e fotos tivéssemos umas imagens de grandes desenhistas do Conan, como Earl Norem, John Buscema, Ernie Chan ou Frank Frazetta. Mas ainda tenho esperança de que, no futuro, tenhamos uma nova edição venha com outra arte na capa.  

Termino esse longo review com uma pequena amostra da estupenda arte dos mestres, qualquer arte deles séria mais que perfeita como capa e imagens internas em qualquer livro do cimério mais poderoso da Era Hiboreana

"Saiba, ó Príncipe, que entre os anos quando os oceanos tragaram a Atlântida e as reluzentes cidades, e os anos do surgimento dos Filhos de Aryas, houve uma Era que não existiria nem nos  sonhos, quando reinos esplendorosos se espalharam pelo mundo  como mantos azuis sob as estrelas, Nemédia, Ophir, Brithunia, Hiperbórea, Zamora, com suas lindas mulheres de negras cabeleiras e torres de mistério aracnídeo, Zíngara, com sua cavalaria,  Koth, que fazia fronteira com as terras pastoris de Shem, Stygia, com suas tumbas protegidas pelas sombras, Hirkânia, cujos cavaleiros ostentavam aço, seda, ouro. Mas o reino mais orgulhoso de  todos era Aquilônia, que dominava supremo no Oeste sonhador. Para lá se dirigiu Conan, o cimério, de cabelos negros, olhos  ferozes, espada na mão, um ladrão, um saqueador, um matador,  com gigantescas crises de melancolia e não menores fases de alegria, para pisotear com seus pés os frágeis tronos da Terra."
(Crônicas da Nemédia)  

Nota: 9,5.

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