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terça-feira, 26 de maio de 2015

ADMIRÁVEL MUNDO PENOSO DO PODCAST

Por Marcelo Soares Lima

O primeiro contato que tive com podcast foi da mesma forma, acredito, que muitos brasileiros, pelo Nerdcast. O programa feito pelo site Jovem Nerd hoje é famoso, rende lucro e oportunidades para seus criadores, eu o conheci ainda em seu inicio lá pelo décimo episódio (e já se vão séculos praticamente, nem lembro como cheguei até ele).

Logo a mídia me conquistou, eu que não acompanhava mais programas de rádios — que tinham se tornado chatos e cansativos com suas mil propagandas e músicas irritantes -, começava a deixar a TV de lado como espaço de busca de entretenimento. Na época terminava meu curso de jornalismo, mas já bem desiludido, via na internet essa possibilidade de falar do que quiser e de forma divertida, prática que os jornais, sejam televisivos ou impressos, não traziam (e o que fazem hoje em dia ainda acho bem medíocres).  

Isso tudo só para falar que fazer um podcast foi o próximo passo óbvio para alguém que gostava tanto da mídia. Os primeiros como sempre foram ridículos de mal feitos, sem ritmo, sem saber locutar, editar, não passavam dos primeiros números. Um tempo depois entrei para um grupo de pessoas ainda no finado Orkut (que descanse em paz), gente de vários lugares do pais que passavam o tempo conversando em chat ou criando histórias em tópicos. Um dia alguns resolveram fazer um blog para falar das besteiras que gostavámos. O blog saiu, anos depois o podcast também e seguindo a mesma lógica o primeiro episódio era/é horrível, sem edição, sem um ritmo, produção de fato.

Nesse primórdio eu era só um participante, mas logo assumi a função de edição dos áudios e assim se foi até mais recentemente assumir a locução junto com produção e organização do site e podcast. E, amigos, tenho que confessar que toda essa trajetória apesar de bem divertida, prazerosa em muitos momentos, nos permitir conhecer pessoas, participar de eventos, é bem cansativo e penoso.  Primeiro que montar um podcast é mais do que simplesmente fazer uma chamada de áudio e colocar pra gravar. É preciso ver qual vai ser o tema, marcar com as pessoas, ver horários, datas, pensar em roteiro, e quando alguém falta? E quando as pessoas não estão dispostas no dia a falar do tema combinado? E quando tem quem só quer falar do que gosta e nada mais? Sem contar ainda que ninguém sabe como será de fato seu podcast até ele ir ao ar e o tempo passar.

Sempre pensamos mil coisas, que vamos fazer assim, fazer “assado”, mas com o tempo que pegamos realmente o ponto certo de ritmo, trilha, cortes, inserção de vinhetas, “piadas sonoras”, é um longo caminho e quando o público não corresponde como se imagina, comentando, mandado feedbacks, compartilhando, o risco do desânimo e desistência é grande.

Quem for podcaster e dizer que nem uma vez pensou em jogar tudo pro alto, deixar pra lá as madrugadas acordado gravando, a abdicação de saídas de casa para editar, as dores de cabeça, raivas e outras coisas que surgem vai estar mentindo. 

Dedicar-se a algo que gosta, mesmo quando esse algo lhe desanima, é uma arte, diria.  E por que você continua, você me pergunta. Eu respondo: por que o podcast ainda é um ideal que me agrada bastante e quando um ouvinte vem elogiar ou dizer o quanto gostou de nosso trabalho é uma satisfação enorme, é clichê, mas é a pura verdade.  

Cada vez mais me preocupo com o como essa mídia ainda tem de possibilidades a serem exploradas e, mesmo assim, é vista ainda como algo menor dentro do campo da comunicação — tanto mercadologicamente quanto academicamente.

O podcast que participo (para os interessados está em www.uarevaa.com) chega em breve ao seu episódio de número 200, e apesar de todos contratempos que possa causar espero ter muitos anos de produção e cansaço pela frente e que a podosfera cresça cada vez mais e mostre sua variedade a públicos maiores.

Marcelo S. Lima 
Jornalista; Mestre em Comunicação, Assessor de Comunicação, podcaster, escritor e fã de cinema e quadrinhos.

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